Fórum São Nuno - A Eucaristia e Santa Maria em São Nuno

O amor pela eucaristia, pela Virgem Maria e o rosário são a trave-mestra da sua vida interior. Assíduo à oração mariana, jejuava em honra da Virgem Maria às quartas-feiras, às sextas, aos sábados e nas vigílias das suas festas. Assistia diariamente à missa, embora só pudesse receber a eucaristia por ocasião das maiores solenidades.

Um dos traços que sobressaem do perfil espiritual de São Nuno é a sua profunda piedade eucarística. É bem conhecido o seu desejo de restaurar as igrejas devastadas pela guerra ou por qualquer outra causa, para que a Eucaristia pudesse ser celebrada com dignidade. Fundou ou restaurou também confrarias do Santíssimo Sacramento em muitos lugares, e fomentou as celebrações do Corpus, insistindo e ordenando que estas se fizessem com solenidade, decoro e piedade, e tudo isto, precisamente numa época da história da Igreja em que surgiram, em diversos lugares, críticas à ideia da presença real.

De igual modo, quer como Condestável do Exército, quer no convento, participava frequentemente na Eucaristia, preparando-se espiritualmente com muita seriedade e com penitências e jejuns. Contam as crónicas da época, e assim o recolhe o sumário do processo, que uma vez em que lhe perguntaram sobre os motivos pessoais de dita piedade eucarística, o Condestável respondeu: Quem quiser ver-me vencido nas batalhas que me afaste deste sagrado convite, no qual o próprio Deus, pão dos fortes, vigora os homens. Portanto, fortalecido com este manjar, revisto-me do ânimo e valor necessários para vencer o inimigo…

Não deixa de ser notável para nós esta confiança plena na Eucaristia que, concebida como pharmakon (como lhe chamam alguns Padres Gregos), nos ajuda a vencer os inimigos da vida, que não são só soldados ou cavaleiros reais, mas inimigos mais perigosos, como o pecado, a violência, o egoísmo…

Outra característica muito definida do perfil espiritual de São Nuno foi a sua devoção à Virgem Maria. Já na sua vida de soldado se encomendava sempre à Virgem Santíssima, antes das batalhas, e pedia também aos soldados que o fizessem. Tinha plena confiança na protecção de Nossa Senhora. Jejuava frequentemente em honra de Nossa Senhora e fomentava sempre a devoção mariana no meio daqueles que o rodeavam. De igual modo, no fim das batalhas, costumava peregrinar a algum santuário mariano.

Por isso mandou reconstruir alguns deles que estavam abandonados ou em mau estado. Ele mesmo pagou a reconstrução de alguns templos, ou mandou construir novos, ou decorá-los dignamente. Neste sentido, muitas igrejas dedicadas a algum orago mariano devem à maior ou menor participação do santo Condestável a sua criação ou subsistência, como as de Sousel; o templo dedicado a Nossa Senhora dos Mártires, em Estremoz; Vila Viçosa; Portel; Évora; Mourão; Camarate; Monsaraz; etc. Um lugar especial merecem, na lista, tanto o templo dedicado a Santa Maria das Vitórias (conhecido como Batalha), construído pelo próprio Rei D. João I a instâncias do seu Condestável para comemorar a batalha de Aljubarrota (perto de Fátima, é uma das jóias do gótico português), como o sumptuoso templo do Carmo, em Lisboa. Alguns historiadores apontam também a intervenção do santo Condestável no auge que em Portugal foi tendo a devoção à Imaculada Conceição, que, com o tempo, se haveria de converter na Padroeira do país, em 1640, a instâncias do Rei D. João IV.

Logicamente que a piedade mariana de Nuno cresceu com o contacto com os carmelitas e, sobretudo, ao ingressar no convento de Lisboa como irmão donato. O facto de ter escolhido, como nome religioso, o de “Nuno de Santa Maria” é, a todos os títulos, significativo. Consta que passava horas em oração diante duma imagem de Nossa Senhora, a quem se encomendava constantemente. O seu exemplo deve ter contribuído, sem dúvida, para que o templo se convertesse num centro importantíssimo de piedade mariana.

O Saltério de Maria, mais tarde chamado Rosário, é uma devoção que teve a sua origem no século 12, mas que atingiu a maior expansão no século 13. A gravura de Nuno Alvares Pereira, a buril, de Pieter Perret para a edição do poema de Francisco Rodrigues Lobo, de 1610, coloca-lhe, pela primeira vez, um rosário ou camândula, na mão direita encostada ao peito. A primeira imagem a mostrar Nuno de Santa Maria de corpo inteiro, na veste de religioso, é a rude pintura seiscentista sobre tábua (Moura). Mostra o donato com rosário e bastão na mão direita, segurando na esquerda maqueta de igreja.

Em 1958, Irene Vilar faz estudos para a escultura em madeira existente na Igreja dos Congregados. Também esta figura tem os braços cruzados sobre o peito. Maria Amélia Carvalheira é autora de baixo-relevo para a Casa Beato Nuno em Fátima. O carmelita sustenta uma bandeira na esquerda e o rosário na direita. No chão, o elmo e a espada. Leopoldo de Almeida esculpiu a imagem para a fachada da Igreja do Santo Condestável, em Lisboa. Tem livro aberto sobre o peito, seguro pela direita e na esquerda a espada e o rosário.

❓ O Milagre Eucarístico de Santarém (1226), terá tido influência na devoção eucarística de São Nuno? Para São Nuno, a Eucaristia é um fármaco (pharmakon); quais são os seus efeitos positivos?



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